Matéria produzida durante 3º semestre 2007.2 do curso de jornalismo/Faculdade 2 de julho.
Por Atma Vydia
Gaia está doente. A gravidade do seu quadro é percebida no desequilíbrio climático e nos furacões como o Katrina que causou graves problemas à cidade de Nova Orleans nos Estados Unidos. Uma das causas mais evidentes desta doença é uma febre chamada aquecimento global.
A palavra Gaia na antiga mitologia grega significa a terra viva.
O relatório do painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em fevereiro, trouxe várias informações sobre o estado de Gaia, uma delas é que sua está temperatura aumentando. Em 1905, a temperatura da terra era em torno de 13,78 graus Celsius. Agora, está em torno de 14,5, e de acordo com os especialistas do relatório está esquentando mais do que deveria e causando sérios problemas ao planeta.
O relatório do painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em fevereiro, trouxe várias informações sobre o estado de Gaia, uma delas é que sua está temperatura aumentando. Em 1905, a temperatura da terra era em torno de 13,78 graus Celsius. Agora, está em torno de 14,5, e de acordo com os especialistas do relatório está esquentando mais do que deveria e causando sérios problemas ao planeta.
Quem é o culpado pela febre de Gaia? Os pesquisadores do IPCC concluíram que a ação do homem ao usar os recursos da natureza visando apenas o lucro é um dos maiores responsáveis pelo desgaste ambiental. Através das queimadas, da queima de combustíveis fósseis e usufruindo sem limites de tecnologias, como automóveis, gás de cozinha e eletrodomésticos, o homem aumenta o nível de poluentes contribuindo para o aquecimento da terra.
O aumento da fome e da pobreza, a falta de água, furacões, derretimento das geleiras e elevação do nível dos mares são algumas previsões, feitas pelos cientistas do IPCC, no relatório divulgado em fevereiro. Elas já estão ocorrendo e podem se agravar se não tomarmos providências para evitarmos o desgaste ambiental.
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Os efeitos do aumento da temperatura são visíveis no Brasil, a Amazônia é uma região que segundo as previsões pode se tornar um cerrado se não for tomada providencias
para reverter o aquecimento da terra. O desequilíbrio climático é visível na região Sul que é atingida por enchentes enquanto o nordeste sofre pelas secas.
Segundo Heráclio Alves, meteorologista da Superintendência de Recursos Hídricos (SRH), “a porção semi-árida do estado é uma das regiões que mais sofrem os efeitos do aquecimento global. Esta região, já tem um nível pluviométrico baixo durante o ano, com valores médios variando de 600mm a 700 mm de chuvas. Com o aumento da temperatura há uma maior evaporação que tende a diminuir a água armazenada. A redução das chuvas acaba prejudicando o desenvolvimento da agricultura de sequeiro, que depende unicamente das chuvas. Por não usufruírem da irrigação, os pequenos produtores e comunidades carentes desta região têm sua produção agrícola reduzida.”. Outras conseqüências do aquecimento apontadas por ele se relacionam à flora. “A Bahia tem uma diversidade climática muito grande. Apesar de situada na região nordeste, ela também é afetada pelo clima da região sudeste. Ela tem bioma importante como a caatinga, a mata atlântica e o cerrado, que são regiões muito vulneráveis a qualquer alteração do clima. Com o aquecimento global as regiões que já sofrem com a seca podem se agravar. Em relação à mata atlântica, que tem uma biodiversidade muito variada existe a possibilidade desta flora ser extinta.”
De acordo com as previsões dos cientistas faltará água no planeta. Além do semi-árido baiano, diversas partes do mundo já vêm sentindo falta do líquido essencial à vida.
Para Asher Kiperstok, professor do departamento de Engenharia ambiental da Universidade Federal da Bahia e coordenador da Rede de Tecnologias Limpas (Teclim) as pessoas utilizam a água sem levar em consideração a escassez dos recursos hídricos. Ele disse que seu gasto individual é de 80 litros de água por dia, e que tem gente na mesma faixa econômica que a dele gastando cinco a seis vezes mais. “São pessoas que passam trinta minutos tomando um banho que do ponto de vista higiênico pode ser tomando em dois minutos.” Segundo Asher, muitos utilizam o banho para relaxar. “Será que a pessoa ficaria relaxada se soubesse quanto seu banho custa de esgotamento dos recursos ambientais? Sugerir formas de relaxamento não faz parte da minha profissão, mas sei que existem alternativas para relaxar, que não causam o desgaste hídrico.”
Tecnologias Limpas como medidas de prevenção do desgaste ambiental
O objetivo da Rede de Tecnologias Limpas e Minimização de Resíduos (Teclim) é contribuir para mudar a visão que a engenharia tem em relação ao cuidado com o meio ambiente nas empresas e nas instituições. Segundo Asher Kiperstok, “é importante que haja esta mudança porque o que está feito no âmbito da engenharia ambiental é claramente insuficiente para garantir a sustentabilidade ambiental e social. Hoje o que se entende como avançado em relação ao esgoto, é tratá-lo e depois fazer a disposição final no meio ambiente, isto não é suficiente do ponto de vista da sustentabilidade. Eu tenho que questionar porque este esgoto foi gerado, se precisava gastar tanta água para gerar este esgoto, se isto é esgoto ou pode ser aproveitado como nutrientes e incorporado em algum processo de produção de vegetais ou para outros usos. Para evitar um maior desgaste ambiental Asher considera importante a prevenção da poluição e a minimização de resíduos.”
O papel da educação
Fraternidade e Amazônia é o tema da Campanha da Fraternidade de 2007, promovida pela igreja católica. O texto base diz que um dos objetivos da campanha é “estimular a mudança de mentalidade que se expresse num estilo de vida simples e respeitoso do meio ambiente e do próximo”. O Colégio Antonio Vieira, em sintonia com esta campanha está desenvolvendo o projeto Experiência de Cidadania, coordenado por Mariângela Sorpa, orientadora do Serviço de Orientação Religiosa e Pastoral (SOE). “O objetivo do projeto é desenvolver nos alunos a consciência da responsabilidade com o meio ambiente. Está nascendo entre o Conselho Regional do Meio Ambiente (CRA) e o Antonio Vieira uma proposta de engajamento voluntário dos alunos daqui com alguns alunos da escola pública para desenvolverem atividades voluntárias na área ambiental. Os alunos do Vieira já assistiram palestra do filosofo Antonio Saja e estão conhecendo tudo o que o CRA vem fazendo em prol da preservação ambiental.” Assumir a responsabilidade nas questões emergências do aquecimento global é uma das metas do projeto Experiência de Cidadania. “Queremos desenvolver nos alunos a consciência ambiental, a responsabilidade de saber cuidar da terra numa visão em que o homem e o meio ambiente estão intrinsecamente interligados. O objetivo é que os alunos se assumam como cidadãos fazendo a sua parte no cuidado para com o planeta”.
Ampliando a orientação dos cuidados com o meio ambiente o Antonio Viera vem desenvolvendo também o projeto “Consumo logo existo”, coordenado pelos coordenadores do ensino médio Jane Medrado e Zelão. “Neste projeto é feita uma viagem temática para discutir a historicidade do consumismo, ou seja, o consumismo é refletido como principio do capitalismo e as conseqüências do seu impacto na questão ambiental. Por causa deste projeto, os alunos assistiram no inicio do ano, o filme Size Man que discute a questão da gula desenfreada, do lixo que é produzido em relação ao consumismo, a quantidade de embalagem que por ano se amontoa e você fica sem saber que fim este lixo vai ter. Nosso objetivo é conscientizar que consumismo não é só gastar mais ou gastar menos é preciso fazer uma reflexão sobre o que vai advir deste consumismo, acima de tudo seu impacto no meio ambiente”, comenta Jane Medrado.
A Fundação 2 de julho, que este ano promove a 3ª conferência Jaime Whight e os direitos humanos com o tema sobre o meio ambiente, vem desenvolvendo sua programação no ensino fundamental, no médio e na faculdade visando o cuidado com a natureza. Conforme Ana Bernadete Meneses, coordenadora pedagógica do ensino fundamental. “Os livros paradidaticos estão voltados para a questão da Amazônia ou para a questão ambiental. Este colégio que está fazendo 80 anos é uma construção preservada. Ela está historicamente ali, do modo que seus fundadores viram, desejaram e pleitearam que permanecesse. Atualizações foram feitas sim, mas a preservação do patrimônio é um exemplo a ser enfatizado. Todas as atividades pedagógicas enfatizam a preservação do meio ambiente e a relação com visão histórica do 2 de julho, como esta fundação foi preservada, desde a sua parte formativa com a sua parte de integração e de cidadania neste ambiente que é a Bahia.” explica a pedagoga.
A coordenadora pedagógica da faculdade 2 de Julho, professora Tecla de Oliveira Melo, disse que a proposta pedagógica desta instituição “é inserir o estudante no mundo de maneira realística a fim de que ele se equipe para viver em sociedade como elemento de transformação se conscientizando do cuidado para com este ambiente tão maravilhoso que foi criado por Deus e que a cada dia está sendo desgastado pelas mãos do próprio homem. É com este objetivo que trabalhamos a questão do ambiente em todas as áreas do conhecimento, ou seja, interdisciplinarmente. A formação da faculdade 2 de Julho vai além da formação intelectual. Queremos que os estudantes se preparem para que se tornem cidadãos e tenham um vida digna cuidando deste ambiente que é nosso e de muitos outros que virão.” Segundo Tecla Melo a questão ambiental faz parte da construção do conhecimento, em todas as áreas, seja no direito, na administração ou na comunicação. “Tudo aqui está girando e respirando em torno do meio ambiente. A 3ª conferência Jaime Whight com os direitos humanos este ano está focada no meio ambiente. O projeto interdisciplinar da faculdade este semestre está voltado também para o meio ambiente. Neste mês de maio, os alunos do curso de direito orientados pelos professores, fizeram uma pesquisa a respeito do meio ambiente em Salvador e em outros municípios. Foi uma riqueza a amostra de filmes e painéis que tivemos como resultado desta pesquisa.”
Será que vamos curar Gaia?
O ambientalista e pesquisador James Lovelock, autor da teoria de Gaia, em seu mais recente livro A Vingança de Gaia, defende que os esforços para conter a crise ambiental já não fazem mais efeito. Ele chega a orientar a humanidade a fazer um manual de sobrevivência para aqueles que resistirem ao colapso da civilização que será causada pelo aquecimento global. Para Asher Kiperstok pode haver uma mudança positiva a longo prazo, em relação ao aquecimento da terra “se houver um esforço contínuo de todos os setores para evitar o desgaste ambiental. Acredito que o esforço dirigido para a geração da inovação tecnológica e cultural, que incorpore o conceito de sustentabilidade facilite as mudanças qualitativas em relação ao meio ambiente.”
estado da terra espelha como o homem ainda desconhece que tudo na vida está interligado, que suas atitudes para com a terra trazem conseqüências para todo o universo.
Em 1854, quando a doença de Gaia não era tão perceptível, os Estados Unidos queria comprar uma ampla extensão da terra dos índios. Por esta compra este país prometia criar uma reserva indígena. A resposta do chefe Seatle a esta proposta é considerada a mais sábia e bela declaração sobre o meio ambiente. Que este breve texto da sua resposta possa nos incentivar a desenvolver a responsabilidade pelo cuidado da terra evitando que apocalípticas previsões possam ser vivenciadas.
“Como se pode comprar ou vender o firmamento ou mesmo o calor da terra? Esta idéia nos é desconhecida.
Se não somos donos da frescura do ar, nem do reflexo das águas, como vocês podem comprá-los?
(...) Ensine a seus filhos o que nos temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo que acontecer com a terra acontecerá aos filhos da terra. Se os homens estragam o solo estragam a si mesmos.
A terra não pertence ao homem; o homem é que pertence a terra. Isto sabemos. Tudo está entrelaçado como o sangue une a família.
Tudo está entrelaçado.
Tudo que acontecer a terra ocorrerá a seus filhos. O homem não teceu a trama da vida, ele é um só elo: O que ele faz à trama faz a si mesmo. (...)”
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